Para que serve a "escola"?

Quando escolhemos a Creche para o nosso filho, nunca foi a pensar naquilo que ele iria “aprender”. Precisávamos essencialmente de um espaço onde sentíssemos segurança em todos os aspetos, para o poder deixar umas horas, principalmente quando tínhamos compromissos que não o podíamos levar sem ter mais ninguém com quem o deixar. Apesar de já ter dois anos, na altura, procurámos apenas por um lugar de conforto onde pudesse estar com outras crianças e ser acolhido por adultos que lhe dessem amor e possibilidade de se tornar autónomo como contributo para a sua felicidade e desenvolvimento. É certo que o contacto com crianças da mesma idade e as rotinas diárias lhe permitiram crescer e desenvolver-se mais. Mas se seria diferente caso ele continuasse em casa? Não posso afirmar que sim ou que não. Enquanto esteve, tenho a certeza de que estava bem, da mesma forma que tenho consciência de que era uma criança que exigia mais do que eu lhe proporcionava, admito. E todas as crianças são diferentes e cada um sabe das suas escolhas. Não é o ficarmos mais ou menos tempos com eles em casa, que faz de nós melhores ou piores pais. Isso apenas nos permite, em parte, alimentar o nosso ego pela capacidade de sermos e estarmos, mas não garante que a criança vai ser mais ou menos desenvolvida por isso. Pode ter amor mais presente, ou não, é relativo, depende muito daquilo que nos permitimos dar. Nem todos temos as mesmas capacidades, e o querer fazer muito ou exigir demasiados deles, não sempre os faz sentirem-se mais amados. Durante o percurso pela creche, algo que evoluiu naturalmente foi a fala, o saber expressar-se melhor em linguagem. Mas essencialmente fez amigos, com os quais agora num grupo novo tem muito mais afinidade e que lhe permitiram voltar a sentir-se seguro e adaptar-se mais facilmente a uma nova escola com uma equipa diferente. E isso foi o fundamental!
Está agora no pré-escolar, eu sempre lhe chamei “infantário” pois do meu ponto de vista e desconstruindo a palavra, é isso mesmo o espaço diário onde passam a infância.  E o que pretendemos daquele lugar? Nesta altura não é importante, para nós, que ele domine muitas outras línguas, que saiba contar até ao infinito e mais além, que já escreva o nome dele de trás para a frente. É fundamental que brinque! Que possa ser ele mesmo, sem que lhe cortem as asas para voar sempre que quiser. Tem regras e rotinas sim, e isso não lhe faz mal nenhum. Mas também tem espaço para ser livre, para brincar espontaneamente, para fantasiar e crescer saudável. Faz atividades relacionadas com temas do quotidiano e em cada pequeno trabalho dele, eu vejo o meu grande orgulho. Pois independentemente de ser algo perfecionista ou assim-assim, é o que ele sabe fazer, e faz com a sua verdadeira essência de quem tem três anos. Não considero que aquilo que constrói a nível material, seja mais importante do que aquilo que ele é diariamente. Não me parece que algo que lhes é “imposto” para fazer, na expectativa de que um dia mais tarde sejam os melhores na escola, os faça mais felizes, do aquilo que fazem se forem convidados de forma carinhosa, intuitiva e com respeito pela sua vontade. E é isto que procuramos na primeira fase escolar conscientes de que um pré-escolar possa ser efetivamente uma fase de preparação numa etapa mais próxima da escola primária. Mas não podemos querer que os nossos filhos aprendam no ensino básico o que se leciona na universidade! Logo os pais não podem exigir algo que não está ao alcance da própria criança. Há tempo certo para tudo e esta fase é quase como os últimos tempos de estudo antes de entrar no mercado de trabalho. Cada momento, cada vivência, devem ser usufruídos como se fosse a última vez, pois daí em diante, nada será igual. O tempo para as nossas crianças brincarem, sujarem-se sem preocupações, esfolarem os joelhos, não terem horários tão rigorosos, poderem ficar em casa de vez em quando mesmo sem estarem doentes, é agora!!!! É urgente que os pais deixem de confundir o amor pelos filhos, com o seu amor-próprio! As crianças precisam de estimulação sim, mas necessitam igualmente de aprender ao seu próprio ritmo. Não é o querer que o nosso filho seja o melhor e o mais sabichão que o irá ajudar futuramente a encontrar o seu equilíbrio. Nós somos a base para a vida deles, somos o exemplo. Aquilo que lhes transmitimos, fará sempre parte da sua construção como pessoas. Se só lhes passarmos a mensagem de que está sempre tudo mal, de que não estamos satisfeitos com as escolhas que fazemos para eles nem para a nossa família, se questionamos negativamente tudo o que é feito no seu dia-a-dia, que tipo de crianças, adolescentes e adultos estaremos a educar?!
A escola e o sistema de ensino está dividido por várias etapas não é ao acaso. E quem não estiver satisfeito com isso, pode sempre educar eternamente em casa.
Não podemos esperar que as pessoas que cuidam dos nossos filhos, assumam o nosso papel de pais. Contudo, estas merecem muito respeito pelo facto de chegarem a passar mais tempo com as nossas crianças do que nós mesmos. E não me venham com o “são pagas para isso”. Realmente são, mas para exercer a sua profissão! Dar colo e amor a alguém tão pequenino que não lhe pertence, vai muito além de valores monetários.
Deixem as crianças serem crianças (ainda que sejam os nossos bebés para a vida toda) e preocupem-se com o que realmente é importante para elas: serem felizes!


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