Não está errado...

Tem dias que me sinto exausta logo pela manhã. Ok, há mães com mais dois ou três filhos e têm o direito de se sentir mais cansadas do que eu. Mas isso não invalida que eu não tenha dormido em condições ou que me doa o corpo todo ao acordar e me possa queixar disso. Porque hoje o meu filho chorou imenso. Acordou zangado e não queria cortar as unhas, nem comer, nem vestir… Duas horas depois eu já me sentia como se tivesse passado um dia inteiro.
Não está errado eu ter pensado em querer que ele fosse para a escola para depois poder respirar, sentar-me a tomar o pequeno-almoço e trabalhar sossegada. Estar tão concentrada nos meus objetivos até me esquecer do café e bebê-lo frio. Porém eu gosto tanto de o ter no meu colo, abraçar-me a ele como se a minha vida dependesse disso, cheirá-lo até o seu cheiro ficar entranhado no meu nariz, olhar para o lado e tê-lo ali tão perto e protegido. Há dias em que ele vai e eu não faço nada do que tinha previsto. Há outros em que ele fica e parece que tudo rende mais porque a sua energia me obriga a estar sempre ativa. Não está errado ele estar na escola e eu trabalhar em casa. Não vivemos só para ganhar dinheiro, mas a verdade é que a dada altura o rumo das nossas vidas, exige que tenhamos mais. E o tempo que passamos com os nosso filhos, não muda tudo o que sentimos por eles. Desde que saibamos estar em cada lugar de forma equilibrada. Que o tempo em que não estamos junto deles, seja sempre compensado pelo tempo em que estamos verdadeiramente juntos! Contudo, é ao fim do dia que muitas vezes tudo desaba. É quando passamos a porta da entrada que extravasamos o stress e o cansaço. Descarregamos o que correu bem e menos bem nos que nos recebem do outro lado da casa. É o Pai que vem aborrecido com o trabalho e entra logo a disparatar e com pressa para o dia terminar e aninhar-se no sofá. É o filho que vem eufórico e exige a atenção dos pais em forma de birras e bate o pé por querer tanto ser ouvido como qualquer um de nós que precisa de falar sobre o seu dia. Com a diferença que as crianças preferem expressar-se em gestos sem muitas perguntas que se tornam num questionário aborrecido feito por pais chatos. E às tantas estamos todos a querer ser ouvidos e confortados e nenhum de nós secompreende. Ok, ainda há as mães e pais que assumem estas horas todas sozinhos porque o outro está fora ou vem mais tarde. E desesperam em prantos de “falar mais alto” e choros desesperados quando tudo fica descontrolado. E a culpa é de quem? De ninguém! Esta é a ordem natural das coisas quando nos tornamos Pais. Não está errado chegar ao fim de um dia de trabalho e querer estar em silêncio com os nossos pensamentos ou simplesmente desistirmos do nosso corpo e mente e deixarmo-nos cair na cama sem querer saber de mais nada. Ainda que saibamos que isso não passa de um sopro de felicidade momentâneo e lá vamos brincar só mais um bocadinho, dar banhos, fazer jantar, lavar os dentes, segurar pilinhas para fazer xixis, se for o caso, e limpar rabinhos antes de dormir. Sem esquecer de contar a história na qual trocamos palavras e com sorte adormecemos a meio antes dos filhos sequer pensarem em fazê-lo. Na verdade, acabamos por perceber que essa é a verdadeira felicidade do dia. O culminar de todas as horas que acabam naqueles pequenos instantes em que voltamos a estar todos juntos. Em que os vemos adormecer serenos, perfeitos e encostados no nosso peito. Ainda assim, não está errado querer que aterrem mais cedo para podermos finalmente tomar um copo e enfardar uns chocolates com o nosso marido. Ou até mesmo jantar mais tarde mas poder saborear em vez de apenas cheirar e engolir. Podermos ter uma conversa a dois sem ter alguém a chamar-nos ou a interromper o raciocínio. Não são esses momentos que nos fazem amar menos os nossos filhos, mas não esses que nos permitem não deixarmos de nos amar um ao outro. Da mesma forma que não está errado querermos ter os filhos só no nosso colo sem os partilharmos com mais ninguém nos primeiros meses ou até anos. Eles têm muito tempo para serem mais de outros e menos de nós! Nem sequer quando chegamos a uma fase em que agradecemos que alguém nos diga “eu tomo conta do vosso filho, vão jantar, vão ao cinema, vão sair os dois…”! Não está errado querer muito não abdicar nos nossos ricos filhos por hora nenhuma, nem querer fazer outras coisas nossas, sem os ter por perto. O importante é ter equilíbrio nas nossas escolhas e não há nada de errado quando se vive com escolhas baseadas em amor...





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