...mas podias ser tu!

Hoje, da minha janela, vi outra Mãe!
Roupa de trazer por casa, coque no cabelo. E até aí tudo bem! Comecei a observá-la melhor. Ar pesado, olheiras carregadas, respirar profundo. Um filho á tira-colo. Miúdo bem giro por sinal. Decorei-lhe o caminhar, o jeito de quem já fez tanto que agora parece, que tanto faz! Uns sorrisos esboçados com carinho para Ele. Afinal só lá estavam os dois. Até que a vi levantar-lhe a voz. Pedir que colaborasse. Dizer-lhe que está doente e cansada. Que a casa está toda por limpar, tudo por arrumar. E Ele chorava, gritava, esperneava. E eu pensava, que Mãe de treta! Tão nova e já tão desgastada e sem paciência para cuidar do filho tão pequeno. Então abraçavam-se, faziam cócegas e ficava tudo bem! Um rosto traçado de preocupações, talvez demasiadas amarguras. Quem sabe, um acumular de desilusões. Ou apenas, um dia menos bom! Um dia em que precisasse só de dormir mais umas horas, dançar pela casa fora, sentir o coração leve e paz de espírito. Nunca a vi olhar-se sequer ao espelho. Uma vassoura no canto, a banca cheia de louça, roupa por estender. Não chegou ninguém que lhe desse uma mão. Por vezes achei que ia vê-la perder a cabeça dadas as investidas da criança. É nesse instante que Ela vira costas e o miúdo entala um dedo! E eu pensei, caramba, se lhe estivesses a dar mais atenção em vez de estares a fazer outras coisas, nada disso tinha acontecido! Conseguia ouvir o choro num eco ensurdecedor. E Ela agarrou nele, disse-lhe que o tinha avisado, encostou-o no ombro com tamanho afago, voou escada acima e desapareceram do meu alcance. 
Esta Mãe, era Eu!!!
E se me vissem hoje da janela, eu poderia ter sido tudo isto para outro alguém. Por vezes, precisamos de nos ver de fora, sem exigirmos mais do que realmente conseguimos dar. Ser Mãe é difícil. Mas compensa sempre! Não condenem tanto quem faz tudo por ser melhor. A melhor para o seu filho, todos os dias sem exceção! Mais abraços e menos julgamentos!
Esta Mãe era Eu, mas podias ser Tu!

(20/02/2018)



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