Quando te achares mais, ou menos, Mãe...

Se és Mãe a tempo inteiro, ou ainda estás de licença, este texto é para ti! Se és Mãe e tens emprego, este texto é para ti também...

Vai chegar o dia que pelo qual, não admites, mas tens sofrido por antecipação. De tudo o que leste ou ouviste, ninguém te falou disto, não de forma verdadeira e crua. Nenhum filme, por mais real que te pareça, nem nenhum teatro por mais fingido que seja, te prepara para isto!
A tua vida deu uma volta gigante, parece-te que já percorreste o Mundo e fizeste um Doutoramento em Maternidade, só em 4 ou 5 meses, em 1, 2 ou 3 anos, pelo tempo que seja, não importa! As tuas escolhas não carecem de justificação aos outros, muito menos o tempo pelo qual, pudeste ou quiseste, ficar com o teu filho em casa.
Um dia, dás conta, de que a tua licença acabou, ou de que já não dá mais para esticar as contas. O amor de Mãe, esse de que já ouviste falar tanto, é o maior e o melhor de todos, nunca duvides, mas infelizmente não paga o ordenado a todas as Mães! Na verdade, a nenhuma! Sempre tiveste consciência disso, sabias que esse dia chegaria! É claro que podes viver com menos e ter sempre mais. Menos dinheiro, menos tempo para ti, menos "luxos", menos energia até. Mas ao mesmo tempo, tens mais, muito mais amor, esse que envolve tudo e te enriquece tanto! Para trás deixaste um emprego, uma carreira, aquilo que gostas de fazer, e, agora chegou a hora de optar. Ou vives com esse "menos", ou abdicas deste teu tempo de Mãe, (que deveria ser teu por direito), e voltas à tua rotina anterior. É então que sabes, por mais que possas muitas vezes questionar, que o teu filho ficará seguro e bem entregue, pelo menos tens que acreditar nisso. Sabes também que, no início te vai doer a alma e o coração, mas que a certa altura, também isso vai passar. Consolas-te pelo facto de voltares a sentir-te mais útil, quanto mais não seja por aquilo com que voltas a contribuir, para a tua família, para a tua casa, as coisas giras e na moda que podes agora comprar para o teu filho e até para ti mesma. Voltas a ter conversas de adultos, que não envolvam "só" fraldas, leite ou chupetas, e conversas com outras Mães, se for o caso, sem teres que desviar o olhar mil vezes por segundo ou levantares-te de rompante a cada 2 minutos, entre choros, tentativas de fuga e repetidos "mamãããã". Voltas a sentir-te quase tão independente como quando saíste de casa dos teus pais pela 1a vez. Podes voltar a conduzir sozinha, espairecer com as colegas e amigas, desligar o botão materno por uns instantes, talvez assim te sintas mais viva e concretizada do que nunca! A sensação de liberdade e poder, vai fazer-te "esquecer" do que poderias estar a viver, se pudesses e quisesses, ter optado por ficar mais uns tempos em casa, a ser "apenas" Mãe! Voltas ao trabalho, deixas o teu filho todos os dias com os Avós, na Ama ou numa Creche, e prossegues assim, com a certeza de que esta é a ordem natural das coisas. E sim, se para ti o for, não estás a fazer nada de errado! Não tens que te culpar por razão nenhuma... Nem mesmo quando chegares a casa e tiveres todas as lidas por fazer, e tempo de sobra, apenas para admirar os teus filhos enquanto dormem.
Só que além das Mães que têm emprego, há as Mães a tempo inteiro! As que o são porque sempre o quiseram, as que foram ficando e acabaram por sê-lo, as que ainda não sabem bem o que fazer às suas vidas, as que não arranjam emprego, as que simplesmente o são, seja por que razão for! Essas, são as que causam mais impacto e até alguma cobiça nas outras, naquelas que tiveram mesmo que ir trabalhar. Também são as que mais vezes se acham "menos" do que as restantes, inferiores no seu poder e utilidade, em casa, na família e para a sociedade. Têm horários como toda a gente. Estão em casa, mas conseguem a proeza de chegar sempre atrasadas! Deixam de cuidar de si, para cuidar de tudo o resto, porque simplesmente não há tempo, ou não se tem o suficiente na carteira, ainda que nada falte! No fundo, pensam que deveriam fazer muito mais, para não lhes caber o sentimento de dependência nem o de serem "sustentadas". São as que a toda a hora se questionam se fizeram a escolha certa. Porque ser Mãe todos os dias, a toda a hora, sem pausas, cansa muito, desgasta imenso, tira-nos anos de vida. São estas, as que sentem que ninguém as compreende, que não são valorizadas, que trabalham 24h e nem sequer são pagas por isso. Que muitas das vezes nem têm com quem deixar os filhos e levam-nos atrás para todo o lado. E desesperam, ficam frustradas e suplicam por momentos de silêncio. E poderem fazer algo, sem os ter sempre agarrados ás suas pernas. Mesmo que saibamos, que o melhor pagamento, é a sorte e o privilégio de ver crescer os nossos filhos, em cada traço, a cada minuto das nossas vidas, sem perder nenhuma etapa deles. São ainda as que chegam ao fim do dia e se deparam igualmente, com tudo por fazer. Porque trabalharam o dia todo, mesmo que em casa, a cuidar de seres tão pequenos e dependentes! E isso não tem preço, nem há ordenado que pague! Só que até essas Mães, mais cedo ou mais tarde, vão passar pelo mesmo que tu, que um dia voltaste ao trabalho! Os filhos não são bebés por toda a vida nem ficam em casa para sempre...

As Mães não podem nem devem ser comparadas, mesmo que sejamos todas reais, vivemos certamente, realidades muito diferentes! Todas somos livres de fazer as mais diversas escolhas para nós e para os nossos filhos. Mesmo que sejam as mais acertadas, ou erradas, aos olhos dos outros, mas isso pouco interessa. Quando te achares "mais", ou "menos Mãe", contigo própria, ou relação a uma outra Mãe, lembra-te disto!

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