Carta á futura Educadora do meu filho!

Hoje caíu-me a ficha! Isto vai mesmo acontecer. Estamos em plena contagem decrescente, uma vez mais...
O dia não começou da melhor forma. Se havia altura para o L esfolar os joelhos pela 1a vez, com sangue e tudo, era hoje, mesmo á porta de casa, em cima da hora!
Uma madrugada pouco alegre, nevoeiro cerrado. Correria e suor logo pela manhã. Achei que o dia, á partida, estava condenado! Mas depois chegámos á reunião na creche. Entre tudo o que me é tão familiar,  conhecemos aquela que para nós ainda era uma grande incógnita, a futura Educadora do meu filho, a C! Se antes via tudo isto na perspetiva de filha de uma Educadora, hoje escrevo-lhe como Mãe. E gostava de lhe dizer isto:

"Querida C.
Hoje, o nosso dia não começou da melhor forma. Saí de casa com um aperto no peito. Sabíamos para onde íamos, só não tínhamos noção do que nos iria calhar na rifa. Depois apareceste tu! Acreditei que és assim tão radiante e amorosa como pareces. E o meu coração sossegou.
Recebeste o meu filho com um sorriso rasgado e de braços abertos. Outra coisa não seria de esperar. Ele entrou sala a dentro, com aquele ar de pinipom trapalhão, andar de pinguim, e a espalhar o charme que tão bem lhe conhecemos. Todos lhe sorriram como se de um abraço coletivo se tratasse. Senti que Ele estava seguro.  A sala, as auxiliares, o grupo, respiram felicidade e harmonia. Não tirando valor a nenhum deles, tenho noção que a Educadora é uma peça fundamental. E mais uma vez acalmei a velocidade das minhas angústias. Ele estava feliz e surpreendentemente, até queria ficar. As dúvidas desapareceram!
Quando o voltares a receber, vai ter 27 meses! São 27 meses em que Eu o amei e o aproveitei, minuto a minuto, tão intensamente, em todas as horas, desde que nasceu! Ele não será especial por isso, será apenas diferente. E sei que vão ser muitas as vezes, em que me vais ver virar costas, destroçada e de lágrima no olho. Acredito que me vais compreender e confortar com o olhar. Não serei a primeira, nem a última! Só não mo arranques dos braços. Não serei capaz de suportar. Dá-nos tempo. Vamos precisar. Acabamos por nos habituar. E dá-lhe tempo a Ele. Afinal só conhece melhor, este 'amor diário' de Mãe. Não dúvido que tens outro tipo de amor, para o sossegar. Quando sentir a minha falta, por favor, diz-lhe que eu volto! Não haverá maior sensação de 'abandono', por mais que jamais o seja, que aquela que me vai acompanhar. Depois passa. Estou confiante que lhe vais ensinar tantas coisas maravilhosas. E sê firme, tanto quanto achares necessário. Não é isso que lhe vai roubar doçura. Antes pelo contrário. Dá-lhe beijos e abraços, diz-lhe que gostas dele, acredita que vais gostar. E eu só desejo que goste tanto de ti, como nós gostámos numa só impressão.
Sei que tens muitos outros meninos para mimar, ensinar, ajudar a crescer. Mas este é meu! E eu só posso torcer por Ele. Porque fui eu que o amamentei. Que lhe dei muito colo. Que passei noites em claro a embalá-lo. Que o adormeço e fico a admirá-lo. Que lhe ensinei muito do que Ele sabe. Que assisti a todas as 1as vezes, incluíndo a de hoje. Que o alimento. Que o visto. Que cuido dele. Que vivi tão intensamente estes 2 longos e tão velozes anos. Choramos e rimos juntos, todos os dias, sem exceção. Ele é o meu diamante. Saber que o vou entregar assim, deixando de assistir a cada passo e traço como até então, parte-me o coração. Estou consciente de que Ele precisa disto. E na verdade, em parte, eu também. Por isso, por todo o tempo que eu puder, vou emprestar-to (só) por poucas horas. Assim espero!
Como me dizia hoje, (palavras proferidas pela minha Mãe), a auxiliar que há 26 anos me acolheu apenas com 3 meses:"cuida do meu filho, como se fosse teu"!
Voltei para casa com a sensação daquele aperto no peito, bem mais leve, o sentimento mais ligeiro, o receio a desvanescer e a certeza de que tudo vai correr bem...
Obrigada C, pela segurança que nos transmitiste. Apeteceu-me dar-te um abraço. Mas vou dá-lo ao meu filho e dizer-lhe que está (quase) pronto para voar!"