Sou (má) Mãe!

Filho, vou contar-te porque sou tão (má) Mãe:

Quando nasceste, ninguém me disse como cuidar de ti, aprendi tudo sozinha. A tentar e a falhar, muito!

Não te dei o 1° banho no hospital. Estava só ainda sem forças e lavada em lágrimas por acabar de saber que ias para uma espécie de incubadora por 24h!

Não te amamentei por todo o tempo que sonhara. Puseram-te a chupeta na boca ao 3° dia e fizeram-me usar mamilos de silicone. Podia ter corrido bem, mas correu mal. Só não te deixei passar fome de maneira nenhuma.

Adormeci muitas vezes contigo na mama. Não mamavas praticamente nada e eu cedia á exaustão. E fiz muitos biberons contigo ao colo, afinal dois braços podem fazer várias coisas ao mesmo tempo.

Não te peguei durante o teste do pézinho e saí da sala de enfermagem no dia da tua 2a vacina. Evitei um desmaio, mas chorei mais por isso do que por se tivesse assistido. E nunca mais fui capaz de te voltar a deixar, num momento de sofrimento, independentemente do meu.

Deixei de cuidar de mim, desleixei-me tanto quanto pude. Um dia, olhei-me ao espelho e não gostei mais de mim. Voltei ao ginásio em busca do meu corpo perdido. E abdiquei algumas horas de ti. Até perceber que isso só me cansava mais e o meu corpo nem respondia ao que lhe pedia. E voltei atrás.

Estabeleci várias metas para mim, outras tantas para ti. As prioridades foram mudando a cada dia. Somos influenciados por tudo o que nos rodeia. Foi quando me apercebi, que era eu, quem mais precisava de estar junto a ti.

Chutei para canto qualquer emprego, formação ou possível carreira. Fomos só ficando, sem limite de tempo. Quando dei por mim, tinha um trabalho a tempo inteiro, ser tua Mãe, cuidar apenas de ti!

Houve dias em que quase me arrependi. Considerei voltar atrás no tempo e nas minhas decisões. Perder a paciência contigo era como levar um murro no coração.

Senti-me tantas vezes cansada de tudo, de estar em casa, de ter sempre tanto por fazer e não me sentir útil em nada. Mesmo quando cuidava de tudo, de ti, de mim. E te ensinava muito do que sabes hoje.

Querer dar-te atenção, colo, carinho e, ao mesmo tempo querer dormir dias infinitos, não era compatível. Culpei-me tantas vezes por me sentir um caco sem tu teres culpa nenhuma.

Dei-te comida passada e papas compradas. Foi isto que os entendidos me mandaram fazer. Até descobrir um Mundo de receitas caseiras. E por mais que defenda a comida saudável, já te dei boiões e bolachas de pacote.

Deixo-te algum tempo a brincar sozinho, enquanto cozinho para ti, e mantenho a casa limpa e arrumada, tanto quanto possível, pela tua saúde e segurança. Pelo meio, falamos no corredor, brincamos ás escondidas e encho-te de beijos.

Chorei á tua frente, por ti, por tua causa e até por nada a ver contigo. E tu choraste, ficaste aflito e partiste-me o coração. Abraço-te, peço-te desculpa, digo-te que já passou, como se servisse de consolo e borracha para apagar esse momento.

Ralho contigo, as vezes que forem precisas. Prepara-te, é das coisas que vais levar de mim grande parte da tua vida. Mas prefiro uma palavra ríspida, um berro na altura da asneira, do que bater. Já o fiz, e arrependi-me amargamente.

Já deixei de te prestar atenção, por várias razões, embora não haja nada mais prioritário do que tu. Mas há momentos para tudo e tu tens aprendido a saber esperar.

Nunca comeste um chocolate nem um frito, nem perdeste nada com isso. Não serás agora mais ou menos saudável por isso. Um dia vou ceder, sei que vou, só ainda não quis.

Vês televisão, vais ao youtube no tablet, fazes chamadas no telemóvel. Não te poderei negar quando eu também o faço diariamente.

Quantas vezes, em vez de ir descansar, fico á espera da hora de te dar o biberon. Não to tiro enquanto o quiseres. Afinal, essa é a nossa amamentação quase desde sempre. A dor de deixar, pode ser diferente, mas sei que vai doer-me na mesma.

Tem dias que te ouço acordar, mas fico mais 5 minutos na cama e tu esperas. Ou então chamas e vens saltar para a nossa cama até me obrigares a levantar.

Dormes no teu quarto desde os 8 meses. Adormeces sempre no colo, e fico sempre mais tempo a ver-te dormir, mesmo que seja tão tarde e nem sequer tenha tomado banho ou jantado.

Detesto que estranhos te toquem ou peguem, assim como ver-te a mexer em tudo e em qualquer lado. Só que cada vez mais te dás a tudo e te "entregas" a todos. Não tenho como não ser picuinhas com micróbios, quedas ou pessoas mal intencionadas.

Deixas-me nervosa, esgotada, com o coração nas mãos.

Mas fiz muito, faço tanto, todos os dias, sem te afastar de mim, abdicando tão pouco de ti. E sim, fui eu que escolhi assim. A errar e aprender, a toda a hora, todos os dias.

Sou tão má Mãe, que tu saberás sempre (espero), a diferença entre o bom e o mau, o certo e o errado, que todos temos sentimentos, que deves aproveitar a sorte que tens, tudo o que a vida te dá, a cumprir regras, acatar ralhetes, a fazer amigos, a partilhar quando e com quem quiseres, a gostar de quem gosta de ti, a retribuir, a ser educado, a pedir e a agradecer...
Acima de tudo isso, saberás que te Amo tanto! Só isso, deverá chegar, para perceberes porque tantas vezes fui e serei, tão "má" Mãe! ❤

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