Antes de sermos Pais...

Quando éramos apenas dois, fugíamos a este assunto. Achávamos que tão cedo não nos batia á porta esta sorte que temos agora. Íamos para todo o lado, sem horas nem restrições. Olhávamos para tudo descaradamente. Sem culpas nem responsabilidades. E principalmente, observávamos os outros. Fazíamos até aquela brincadeira de casais solteiros sem mais nada para fazer, que apanham umas frases pelo ar e realizávamos o resto das histórias na nossa imaginação. Outras vezes, com um instinto talvez inato que ainda desconhecíamos, admirávamos as crianças, cada traço, as parecenças com o A ou B, como estavam vestidos, o comportamento, as birras, o choro, a forma de estar, como falavam, o que comiam.
E depois os respetivos Pais. Criticámos tanto! Inexperiência a nossa,  acharmos que seríamos tão bons, tão melhores, tão perfeitos!

"Quando tivermos filhos: não fazemos assim, não o vestimos daquela maneira parola, não o deixamos chorar tanto, se fizer uma birra daquelas leva uma palmada que até salta, não vai andar a correr feito tonto de um lado para o outro, não o deixamos falar com desconhecidos, não come porcarias, não anda na rua todo sujo, se não se portar bem não vamos mais aqui nem acolá, jamais o trazemos para estes sítios, se falar assim comigo fica de castigo sem isto e sem aquilo, ai não quer comer?! passa fome!, tão pequenos já de tablets e telemóveis na mão, nem pensar "
E mais umas quantas barbaridades, ás quais hoje diríamos a nós próprios: sabe nada inocente!

Ah e ainda seríamos os mais pacientes, sempre frescos e fofos!

Quando nos tornamos Pais, tentamos ser os melhores para os nossos filhos. E podemos até ser perfeitos, mas só mesmo para Eles. Pois sabemos que não o seremos. A dada altura, eles vão crescer, ter noção de tudo, e encontrar-nos todos os defeitos e mais alguns. Eles e os demais. Sim, os Pais preocupam-se demasiado com o que os outros possam pensar!

Tudo aquilo que reprovávamos antes de sermos Pais, agora vai-nos caíndo em cima. E não é azar, não é defeito, não é feitio. É somente um bebé a crescer e a ser naturalmente teimoso, ou o que lhe queiram chamar. Os bebés choram de fome, sono, calor, frio, fralda suja ou qualquer outro incómodo. Fazem birras, gritam, esperneiam. Brincam onde só nós achamos que não devem e sujam-se imenso. Não querem comer nem dormir quando só a nós nos convém. Chamam á atenção quando só queremos é passar despercebidos. Sentimo-nos "envergonhados" a toda a hora. Tiram-nos do sério, fazem-nos quase deixar a meio o quer que seja que estivermos a fazer e fugir dali. Dizemos uma carrada de disparates e a seguir corrigimo-nos, porque alguém pode ouvir e até parece mal ou porque não era de todo aquilo que no fundo gostaríamos de ter dito. E tudo isto é normal!!!

Agora que somos Pais e sentimos tudo isto na pele, observamos só o que os outros estão a observar em nós. E sentimo-nos uns parvos, por em tempos pensarmos que connosco seria diferente!

Vamos só ali continuar a ser Pais reais e já voltamos...

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