Não tinha como o demover. Mais um ano em que o "deixei" ir. Há uma razão que só Ele sabe e que nem eu nem ninguém pode ou deve questionar. Sempre compreendi e aceitei. Já o fazia antes da minha existência, antes de sermos dois, ou três. Não sei a quem custa mais. Se a Ele que vai e deixa tudo para trás. Se a mim que cá fico e permito que nele leve tanto de mim. Ele vai com destino certo, mas sem nunca saber que obstáculos surgirão pelo caminho. Ele carrega uma mochila, nela leva o meu coração. Fico com o nosso filho no colo e todos os encargos pesam nos meus ombros. Eu não posso falhar. A Ele nada lhe pode acontecer. Com a ida dele, cresce o meu único medo, o de que não volte... Todos corremos esse perigo, os que andam á beira da estrada, muito mais!
Ele conta kilómetros, eu conto as horas. Sei que nos leva no pensamento e Ele sabe que por cá há uma voz pequena sempre a chamá-lo. Está sujeito ao tempo que o acompanha e eu, aos sentimentos que me invadem. E nenhum destes se controla! Não posso ser esta Mãe sem este Pai. Ou até posso, só não quero. Sei sempre a falta que me faz! As saudades que Ele tem são bem maiores desde que cá ficamos dois! Para os que por Eles passam, Ele é só mais um. Para nós, é o nosso herói. Não se trata de desejos, vai muito além disso. Agradecimento, promessa, crença, cada um saberá da sua razão. É um sacrificio que não move alguém só por motivo nenhum. Ele é dos que leva os outros pela mão, pelo braço, ao colo ou ás cavalitas se for preciso. Pode chegar lá mais tarde, mas não deixa ninguém ficar para trás. Gabo-lhe a força e a determinação!
Para quem cá fica parece tão perto. Para cada Peregrino, em cada curva desejam que seja "já ali". Conheço-lhes os percursos, os termos, as horas de sair, as paragens, a coragem. Nunca fui, apenas fisicamente, de resto tenho ido sempre, desde que "vou" com Ele. Ainda não chegou a minha vez e até isso terá a sua razão de ser. Um dia vou lá chegar, ao lado dele, sem esta espera que me atormenta. Antes ou depois disso, também lá estaremos, os dois, para o ver a atravessar a "meta". Ele anseia a chegada ao destino e eu a chegada dele a casa. Sei que vai chegar sujo, com cheiro a estrada, com bolhas e esfolado. Vem cansado e encontra-me exausta. Mas agradeço-lhe sempre por tudo isso. Sempre que vai sei que somos movidos por amor. Quando volta, somos movidos pelo reforçar da fé. A dele alimenta a minha. E seguimos assim a nossa caminhada...
Já chegou! Já passou!
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